SÃO PAULO - A visão geral otimista do setor imobiliário brasileiro amparada pelo plano do Governo para solucionar em 15 anos o déficit habitacional de cerca de 7,9 milhões de unidades não ignora a grande quantidade de trabalho à frente de incorporadoras e construtoras de imóveis.
Em Painel do Setor Imobiliário, realizado pela parceria Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) e BM&F Bovespa, na segunda-feira (8), ao mesmo tempo em que pareceram claras as oportunidades no atendimento ao público da baixa renda, também ficaram no ar desafios para consolidar a nova tendência da construção.
"O mercado sempre esteve acostumado a trabalhar no segmento de luxo, na classe média alta (...) Mas o futuro é popular", destacou o presidente do Secovi-SP (sindicato das construtoras e imobiliárias), João Crestana, que participou das conversas com o Governo para o lançamento do programa "Minha Casa, Minha Vida".
Para ele, o mercado tradicional, composto pelas áreas de atuação para clientes da média renda alta e de luxo, carrega uma perspectiva estável com trajetória de crescimento nos próximos anos. Enquanto o mercado para imóveis de menos de R$ 150 mil estará dobrando a capacidade de faturamento no período.
Alternativas micro
As medidas estatais, que incluem recursos na faixa de R$ 60 bilhões, sendo R$ 34 bilhões para subsídios diretos em financiamentos por três anos, visam atender a demanda de famílias com renda de 1 a dez salários mínimos. O limite máximo do subsídio é até 88% do valor do imóvel para famílias até três salários mínimos, que representam cerca de 90% do déficit habitacional.
Dentro desse nicho, de acordo com o superintendente Regional Paulista da CEF (Caixa Econômica Federal) Válter Nunes, o Governo já recebeu a inscrição de mais de 2 milhões de pessoas para participar do programa. "É digno de estudo. Tivemos participação de 120 mil pessoas em quatro dias de Feirão em São Paulo. As construtoras vão ter que se atentar a isso com mais afinco", declarou.
Crestana lembrou que a atuação na baixa renda exige uma análise criteriosa de projetos. É preciso evitar custos de condomínio superiores à capacidade dos moradores, localização adequada do imóvel, necessidade de espaço para lazer, ou seja, "infraestrutura tem que ser levada aos bairros periféricos". Além disso, construtoras também reclamam da burocracia encontrada nas negociações com prefeituras.
Segundo o presidente do Secovi-SP, com os valores pretendidos no plano do Estado, o mercado conta com R$ 77,5 bilhões em recursos para projetos entre 2009 e 2010. No longo prazo, entretanto, é consenso entre os especialistas a necessidade de se buscar outros instrumentos de captação do setor dentro do mercado de capitais, pois não há garantias de evolução sustentável contando somente com recursos do Governo.
Fundamentos macro
Na contramão do viés otimista, relatório publicado pela Fitch Ratings aponta incertezas macroeconômicas como limitadores do desenvolvimento de novos projetos por parte das construtoras ao longo de 2009 e 2010. Citando a retração no número de lançamentos desde setembro de 2008, a agência de risco espera margens operacionais fracas e a liquidez pressionada pela necessidade de capital de giro dos empreendimentos em curso.
A abordagem não combina com a apresentação de Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria Integrada, durante o Painel. Prevendo superação da crise a partir de 2010, destaca os efeitos da taxa básica de juro nacional em um dígito na indústria de incorporação imobiliária. "Em termos relativos, há muito espaço para crescimento do crédito no setor", completou.
Fonte: InfoMoney
Conrado Mazzoni Cruz
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