A disparada dos preços dos terrenos, que já subiram 110% nos últimos cinco anos, começa a travar alguns negócios no mercado imobiliário de Curitiba. Segundo as empresas do setor, a especulação de preços se acentuou nos últimos meses e começa a diminuir a velocidade dos acordos para incorporação. Vendas de terrenos que eram fechadas em um mês, ou no máximo dois, estão demorando até um ano para serem efetivadas.
“Tivemos o caso de um terreno de 2,8 mil metros quadrados na Vila Izabel que íamos fechar com preço de R$ 1,5 milhão. Três dias depois o proprietário pediu R$ 2,1 milhões”, afirma Gustavo Selig, da construtora Héstia e presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR). “Não fechamos negócio e o terreno continua à venda”, acrescenta.
Curitiba já não tem grandes áreas disponíveis para a construção, principalmente nos bairros mais tradicionais, o que tem ajudado a turbinar os preços.
Os valores subiram em média 82% acima da inflação nos últimos cinco anos. No Água Verde, no Bigorrilho e em Santa Felicidade, por exemplo, os preços triplicaram nos últimos cinco anos. O valor dos terrenos, juntamente com a mão de obra, são apontados como um dos principais fatores para a “inflação” dos imóveis, dizem as construtoras.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Hamilton Franck, a alta é generalizada. Atinge desde áreas para o programa de habitação popular Minha Casa, Minha Vida, até as mais voltadas para edificações de alto padrão. “Muitos proprietários de terrenos viram que o mercado está crescendo e resolveram vender suas áreas, mas sem respeitar os limites do mercado”, diz. “A conta no setor da construção não é tão simples. O preço do terreno não é automaticamente repassado para o preço final. O projeto só é viável se o terreno não ultrapassar 20% do valor de venda do imóvel.”
Para Valdir Miguel de Souza, vice-presidente de desenvolvimento urbano do Sindicato da Habitação e Condomínios (Secovi) no Paraná, alguns preços de mercado “já fogem do razoável”. De acordo com ele, a expectativa de que o mercado deve continuar aquecido por pelo menos mais dois anos e a escassez de áreas ajudam a alimentar a especulação.
Souza, que também é presidente da TerraParc Loteamento e Urbanismo, negocia desde agosto do ano passado a compra de uma área de 110 mil metros quadrados no Umbará. “É uma área cujo valor estimado de mercado é de R$ 5 milhões, mas que o proprietário quer R$ 10 milhões. As negociações estão paradas.”
A falta de grandes áreas está fazendo com que as construtoras tenham que comprar vários terrenos e negociar com diferentes proprietários. “Negociações como essas podem demorar até três anos”, diz Jefferson Gomes da Cunha, sócio diretor da construtora Terrasse. De acordo com ele, em bairros como Água Verde, Cabral, Juvevê e Champagnat já não se encontram mais áreas de 3 mil, 5 mil metros quadrados – suficientes para construir de 10 mil a 20 mil metros quadrados em edifícios. Para ele, o mercado terá que atingir um ponto de equilíbrio, já que não há espaço para grandes reajustes. “Além do terreno, temos pressão dos custos de mão de obra e material de construção. Mas a capacidade de repasse e custos depende do potencial do comprador absorver essa alta. E a renda do consumidor obviamente tem um limite”, afirma.
Apagão
Apesar das dificuldades, os empresários do setor descartam a possibilidade de um “apagão” de oferta de imóveis. Os atrasos nas negociações devem ter influência em empreendimentos que serão lançados dentro de um, dois anos. “O mercado vai se ajustando e aos poucos voltando para a realidade. A vantagem é que as empresas estão bem estocadas de terrenos”, diz Franck, do Sinduscon.
Fonte: Gazeta do Povo
Cristina Rios
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