Apesar da crise econômica, o mercado imobiliário voltou a ficar aquecido no Paraná e as construtoras foram surpreendidas com o aumento na procura por imóveis. O crescimento da oferta de empreendimentos, a queda nas taxas de juros e o pacote de estímulo ao setor lançado pelo governo federal fizeram o consumidor retomar os planos da casa própria.
A Caixa Econômica Federal – principal agente financeiro do setor, com 70% de participação – aumentou em 90% os financiamentos no primeiro trimestre no estado, para R$ 434,6 milhões, na comparação com os primeiros três meses de 2008. O volume de unidades negociadas também deu um salto, de 5.349 para 11.032 na mesma base de comparação.
Segundo o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) no Paraná, Gustavo Selig, a demanda reprimida, a queda nas taxas de juros e a migração do investimentos para o mercado imobiliário embalaram as vendas do setor. “Somente em Curitiba, há uma demanda por 9 mil imóveis por ano, para uma produção de 6 mil novas unidades. Esse público continua interessado em adquirir a casa própria, mesmo com a crise. Além disso, a rápida valorização do imóvel também tem tornado o setor uma opção atrativa para o investidor”, diz Selig.
Para as empresas do setor, a sensação de melhora de alguns indicadores econômicos e a confiança na manutenção do emprego têm ajudado o cliente a tomar a decisão de realizar o sonho da casa própria. “Os juros estão mais baixos, há o pacote do governo de estímulo ao setor. E há crédito para financiamentos. Além disso, os lançamentos cresceram 11% nos primeiros três meses do ano na comparação com igual período do ano anterior, o que contribui para um grande número de oportunidades e para o bom momento”, diz Marcos Kahtalian, consultor do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) no Paraná.
Habitação popular
Até agora, os números do setor ainda não refletem o impacto do pacote do governo federal “Minha Casa, Minha Vida”, que vai incentivar a habitação popular para famílias que ganham entre três e dez salários mínimos e que começou a vigorar em abril. Mas a expectativa é de que a população de baixa renda ajude a impulsionar ainda mais o mercado ao longo de 2009. A Caixa Econômica prevê financiar R$ 2,5 bilhões no estado até o fim do ano, contra R$ 1,5 bilhão no ano passado, segundo Gueber Roberto Laux, gerente regional de negócios. “Parte importante desse aumento vai vir de imóveis voltados para famílias que serão beneficiadas pelo programa”, afirma Laux. No Paraná, a Caixa deve repassar R$ 500 milhões entre financiamentos e subsídios para o programa neste ano, o suficiente para a construção de 8 mil moradias populares no estado. “Cerca de 300 pessoas estão se inscrevendo por dia”, diz.
As construtoras que atuam nesse nicho de mercado já sentem aquecimento nas vendas, como é o caso da Andrade Ribeiro. “Dois lançamentos, com apartamentos com preços de R$ 98 mil e R$ 88 mil, que esperávamos acabar de vender em maio e junho já estão totalmente negociados. O aumento já é reflexo do pacote”, diz Erlon Rotta Ribeiro, diretor comercial da empresa. A construtora, que tradicionalmente tem 60% dos seus negócios no mercado de alta renda e 40% no de habitação popular, já prevê uma inversão dessa participação. “2009 será o ano da baixa renda”, diz.
Classe média
As construtoras também acreditam no aumento dos negócios para a classe média. Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, que ficaram de fora do programa habitacional, o governo anunciou um aumento do valor máximo para imóveis financiados dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Ele passou de R$ 350 mil para R$ 500 mil. Os financiamentos do SFH são feitos com recursos da caderneta de poupança e o mutuário pode utilizar também o dinheiro que possui na sua conta individual do FGTS (veja mais informações no quadro abaixo).
“Houve uma melhora significativa das vendas em abril, depois de o mercado parar entre dezembro e fevereiro”, afirma Seme Raad Filho, diretor da construtora Monarca. De acordo com ele, a empresa vai retomar aos poucos o ritmo de lançamentos. O primeiro deles, que será anunciado até o fim do mês, terá apartamentos com preços entre R$ 260 mil e R$ 360 mil. “O susto da crise passou”, diz Hugo Peretti Neto, diretor geral da construtora Hugo Peretti. Segundo ele, a procura por imóveis cresceu 30% e a velocidade de vendas está maior do que a esperada. “Ainda assim estamos longe do ideal. Mas temos um empreendimento recém-concluído com apartamentos na faixa de preços entre R$ 470 mil e R$ 570 mil que está com 60% das unidades vendidas, o que é um ótimo desempenho”, afirma.
Colaborou Alexandre Costa Nascimento
Fonte: Gazeta do Povo - Cristina Rios
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