Com vários setores industriais duramente abatidos pela crise e com uma perda expressiva na produção agrícola devido à estiagem, o primeiro semestre da economia paranaense foi desanimador. Há sinais, porém, de que ela já bateu no fundo do poço e indicadores importantes mostram um desempenho melhor do que a média nacional.
Parece contraditório, mas um dos sinais mais positivos da economia paranaense no primeiro semestre foi o recuo de 1,4% na produção industrial de janeiro a abril, na comparação com o mesmo período de 2008. Foi a menor queda entre os estados pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e sensivelmente menor do que a queda de 14,7% na média do país. Setores de peso, como alimentos, bebidas e produtos químicos, seguraram o índice estadual.
Os efeitos da crise foram mais sentidos no setor metalmecânico, abatido pela queda abrupta nas exportações de veículos e nas vendas internas de caminhões e máquinas – os fabricantes de veículos apresentaram um recuo de 35,6% na produção, a maior entre todos os segmentos pesquisados. Também foi um semestre decepcionante para produtores de madeira e mobiliário.
O presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, diz que no começo do ano os empresários estavam se preparando para o pior, mas depois a crise se mostrou moderada no estado. “Já era esperado que houvesse perdas nesse primeiro semestre em relação ao ano passado. O setor exportador foi muito impactado e grandes empresas tiveram de fazer ajustes entre novembro e janeiro”, lembra. “Agora precisamos nos preocupar com a competitividade da indústria para quando vier a retomada.”
Essa sensação de “moderação” também foi vista no emprego. De janeiro a abril, foram abertas 34,5 mil vagas formais no Paraná, o que significa um incremento de 1,6% no número de pessoas empregadas. O número está acima da média nacional, de 0,56%. A recuperação é bem-vinda, mas ainda é tímida diante da perda de quase 50 mil postos de trabalho no Paraná em dezembro. E o ciclo de demissões, como mostra a dispensa de 900 trabalhadores da fábrica da Bosch em Curitiba, ainda não está completamente encerrado.
No comércio, houve um aumento de 0,7% nas vendas nos primeiros quatro meses do ano, segundo o IBGE – abaixo da expansão nacional de 2,5%. A venda de veículos, apesar da redução de impostos sobre automóveis, estagnou e os segmentos de vestuário, móveis e eletrodomésticos, e materiais de construção recuaram. “Dividimos o semestre em duas partes. O primeiro trimestre foi de queda, com uma recuperação no segundo trimestre, quando começou a valer a redução de impostos sobre a linha branca e materiais de construção”, comenta Darci Piana, presidente da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio).
Em parte, o comércio sentiu os reflexos das dificuldades do campo. Segundo a Secretaria da Agricultura, houve uma quebra de 21% na safra de grãos neste ano – número apurado até maio e que deve ser revisto. Assim, o estado está produzindo 25,5 milhões de toneladas, em vez dos 32 milhões de toneladas previstos. Além disso, o preço de vários itens está mais baixo do que no ano passado. É o caso do milho, cuja saca é vendida hoje por cerca de R$ 17, cerca de R$ 3 a menos do que em 2008.
No setor de construção civil, o ânimo foi retomado com a melhora no crédito – somente a liberação de recursos da Caixa no Paraná cresceu 82% até maio. As taxas de juros estão caindo e o projeto Minha Casa, Minha Vida fez disparar a procura pelos imóveis mais baratos. “É verdade que a velocidade das vendas caiu um pouco, mas o indicador está na média histórica, o que é saudável para o setor”, diz Hamilton Franck, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR). O sindicato também notou uma queda de 9% nas áreas liberadas para construção, um indicador da disposição de se iniciarem novas obras. “Muitas empresas esperaram o cenário se estabilizar. Nossa previsão é de que haja um aumento de 10% a 15% na área liberada até o fim do ano”, diz Franck.
“Os incentivos ao consumo funcionaram para segurar a economia no primeiro semestre e, mesmo assim, o PIB do Brasil caiu 0,8% no primeiro trimestre”, destaca Christian Luiz da Silva, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Na opinião do economista, uma vantagem do Paraná é que sua indústria alimentícia é bastante estável e serve como um amortecedor para choques em outros segmentos. “Ao mesmo tempo, a economia do estado está mais exposta a problemas climáticos, como a seca deste ano. Seu impacto total no PIB estadual ainda precisa ser estimado”, completa.
Gazeta do Povo
Guido Orgis
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