É visível a maior disposição ao endividamento das famílias, nas operações habitacionais das negociações no mercado de imóveis brasileiro. Tal fato, evidenciado pela apreciável diminuição da participação do valor da entrada na cifra total do contrato, que recuou de 53,0% em 2004 para 44,0% em 2007 e 38,0% em 2010, precipitou a feitura de algumas avaliações pessimistas, por parte dos meios especializados, dando conta da possibilidade de ocorrência de uma bolha de insolvência. Nesse caso, se reproduziria, por essas paragens, o fenômeno verificado nos Estados Unidos (EUA) entre 2006 e 2009.
Porém, incursões menos precipitadas permitem inferir que as chances de quebra do ramo imobiliário do País seriam praticamente nulas, devido à combinação virtuosa de alguns elementos. Em primeiro lugar, a despeito do curso expansivo, o crédito imobiliário ainda representa menos de 4,0% do Produto Interno Bruto (PIB), contra cerca de 15,0% do PIB nas economias emergentes e avançadas. Na esfera privada, os montantes de financiamentos imobiliários respondem por 3,5% das transações totais, ante 20,0% no Chile e 28,0% na União Europeia, por exemplo.
Em segundo lugar, emergem as condições de equilíbrio macroeconômico, mercado regulamentado e o funcionamento de instituições financeiras sólidas, especialmente depois das operações de saneamento e liquidações, bancadas pelo setor público no 2º quinquênio dos anos 1990, de forma a evitar a produção de risco sistêmico associado ao fim do imposto inflacionário.
Em terceiro lugar, as estatísticas do Banco Central (BC) revelam que, embora o comprometimento da renda anual agregada dos brasileiros com os montantes das prestações futuras tenha chegado a 35,8% em junho de 2010, frente a 22,8% em junho de 2006, 31,1% em outubro de 2008 e 30,5% em janeiro de 2009, o fluxos mensais absorvem apenas 22,0% dos rendimentos.
Em quarto lugar, em uma incursão prospectiva revela que o avanço dos haveres compromissados com imóveis deve comprimir a procura de crédito para a compra de outros bens duráveis de maior valor unitário, principalmente automóveis, o que, em grande proporção contribuirá para contrair as pressões sobre a infraestrutura de transportes dos grandes centros.
Fonte: Gilmar Mendes Lourenço - Economista