Financiar um imóvel para realizar o sonho da casa própria pesa mais no orçamento do que pagar aluguel, certo? Errado. Apesar dos juros e amortizações, alugar pesa em média o dobro que as prestações de imóveis nos gastos das famílias brasileiras, de acordo estudo que está sendo divulgado nesta quarta-feira (1) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Com base nos microdados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o Ipea apurou que a despesa dos mutuários com financiamento consome 6,7% da sua renda, enquanto o gasto com aluguel representa 12,3% do orçamento de quem tem esta despesa. Os dados foram calculados a partir da POF de realizada de 2008/2009, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Sai mais barato financiar do que alugar porque os preços dos aluguéis têm subido sem proteção. São contratos renovados a cada 30 meses, conforme acordo com o mercado e refletem, portanto, a valorização dos imóveis e dos preços das terras", explica o pesquisador do Ipea Pedro Humberto Carvalho, um dos autores do estudo. "Os valores de financiamento são menos expostos a estas variações", acrescentou.


Na pesquisa anterior, de 2002/2003, a despesa das famílias com aluguel foi praticamente a mesma. Já entre as mutuárias, a despesa equivaleu a 8,3% - houve uma queda, com redução nas taxas de juros.

“Esse fato é curioso, pois o aluguel não exige a amortização do valor do imóvel, como ocorre com os financiamentos, muito embora o valor da prestação dependa também do valor da entrada. Além disso, o crescimento exponencial do valor dos imóveis urbanos verificado nos últimos anos, devido ao crescimento econômico, não impacta o valor das prestações de imóveis contratados no passado”, assinala o estudo “Evolução das despesas com habitação e transporte público nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF): análise preliminar 2002-2009.
Participação da despesa na renda anual dos pagantes

Valores percentuais

Anos
Famílias que pagam aluguel (%) 

Famílias que pagam prestação (%) 
Famílias que adquirem à vista (%)
2002/2003
12,49
8,3
21,19
2008/2009
12,14
6,6
44,1

Fonte: Ipea com microdados da POF/ IBGE

Segundo o Ipea, a aparente distorção entre gasto com aluguel versus despesa com financiamento pode ser explicada também por elevados valores pagos na entrada da compra do imóvel. Outra explicação possível está nas diferenças entre indexadores: “o crescimento do preço dos imóveis, intensificado a partir de 2008, foi muito maior que o da TR, que indexa a maioria dos contratos de financiamento imobiliário. Com isso os mutuários do SFH estão protegidos contra choques e bolhas nos preços dos imóveis que os arrendatários não estão”, acrescenta.

Os domicílios que pagam aluguel passaram de 12,9% para 17,0% no período de realização das duas POFs . Já no universo das famílias que financiam imóveis, houve um pequeno aumento de 4,6% para 5,2%. “Houve um incremento do número de famílias que passaram a financiar a aquisição, passando de 42% para 59%”, ressalta o Ipea. O instituto reitera que a posse de imóveis no Brasil já atinge cerca de 70% dos domicílios.

A parcela de brasileiros que adquiriram imóveis pouco avançou, admite o Ipea. Uma das razões é a limitação da renda e acesso a financiamento dos mais pobres. "Esta pesquisa foi realizada com base em dados até 2009 e não pegou ainda os efeitos do Minha Casa Minha Vida, que foi pensado justamente para mudar esse processo e incluir mais famílias no sistema de financiamento", acrescentou o pesquisador.

Segundo ele, é a primeira vez que uma pesquisa delimita o universo de pagantes no orçamento das famílias a partir dos dados do IBGE. Normalmente, a parcela na renda de determinado item é feita a partir do universo de todas as famílias brasileiras, e não no grupo dos que pagam pela respectiva despesa.

Em compensação, a parcela dos gastos das famílias que adquiriram um imóvel à vista subiu de 38,7% para 58,9% em sete anos. O processo de compra de imóvel fazia parte do universo de 2,1% das famílias investigadas pelo IBGE. “Ressalte-se que os imóveis novos adquiridos a prazo obtiveram um indicador bem mais alto, subindo de 88% para 132% da renda familiar anual dessas famílias”, destaca o instituto.

Fonte: IG

Sabrina Lorenzi